quarta-feira, 8 de maio de 2013





     O último dia: Alexandre, eu e você
 
Vida plena    





Em uma segunda feira, última semana do mês de abril, acordei com a triste notícia de que um jovem com apenas 17 anos de idade havia sido ceifado da vida em um acidente automobilístico no interior do estado.
Aos 17 anos se espera tudo na vida; menos a morte. Espera-se a aprovação no vestibular, um estágio remunerado, uma oportunide de trabalho, um grande amor; conhecer novos amigos, novas pessoas, novas culturas, novos países. Com 17 anos espera-se da vida: o feriado, a primavera, o verão, a praia. Não a morte!
O sentimento é de que a morte não combina com um jovem de 17 anos, não rima com a vida, com o futuro, com a esperança. Porém, a realidade é estreita, a irmã morte, como assim a chamava São Francisco de Assis, não se deixa seduzir pela pouca idade, pela condição sócio-cultural-financeira, pelo poder, ou, pela fama. A morte é uma realidade imperativa. Morreremos!
Por mais que tenhamos Vida, e a tenhamos em abundância, a morte é o limite. Limite que nos faz recordar que somos humanos, frágeis, criaturas sensíveis e passageiras. Na vida encontramos oportunidades diferentes, trilhamos por caminhos diferentes, fazemos escolhas diferentes, mas, todos nós, independente de nossas escolhas, letrados e ignorantes, ricos e pobres, brancos e negros, experimentaremos a mesma realidade: a realidade de morrer.
Os três últimos desejos do imperador Alexandre, o Grande, ao defrontar-se com a morte tem muito a dizer-nos. Disse o Grande:
Meu primeiro desejo é que meus médicos devem carregar sozinhos meu caixão. Em segundo lugar, desejo que quando meu caixão estiver sendo levado para a sepultura, o caminho que levar ao cemitério deverá ser coberto com ouro, prata e pedras preciosas, que recolhi ao meu tesouro durante minhas conquistas. Meu terceiro e ultimo desejo é que minhas duas mãos sejam deixadas balançando ao vento, fora do caixão e à vista de todos.
As pessoas ali reunidas se admiraram com os estranhos desejos do rei, mas ninguém ousou questioná-lo. Porém, um dos generais mais queridos de Alexandre beijou sua mão e perguntou-lhe: "Ó rei, nós te asseguramos que seus desejos serão todos cumpridos. Mas diga-nos, por favor, por que nos faz pedidos tão incomuns?"
Alexandre, então, respirou fundo e disse: Eu quero que o mundo conheça as três lições que acabo de aprender:

1)      Quero que meus médicos carreguem meu caixão para que as pessoas percebam que nenhum médico pode realmente curar nosso corpo. Eles são impotentes e não podem salvar uma pessoa das garras da morte certa. Ninguém deve viver sua vida como algo garantido.

2)      Meu segundo desejo, para que o caminho até o cemitério seja coberto de ouro, prata e outras riquezas, é para que as pessoas saibam que nem mesmo uma fração de meu ouro irá me acompanhar. Passei toda minha vida acumulando riquezas, porém tudo que aqui conquistei, aqui ficará.

3)      Sobre o meu terceiro desejo, de ter minhas mãos à mostra para fora do caixão, é para que as pessoas saibam que eu vim até este mundo de mãos vazias e de mãos vazias sairei."

Na Sagrada Escritura, Nosso Senhor Jesus Cristo, defronte a morte, deixa-nos uma única certeza: “Eu os ressuscitarei no dia final (Jo 6,51)”.  Partindo da premissa, o qual todos nós morreremos, também é certo, que todos nós que cremos ressuscitaremos. Não por nossos méritos ou sofrimentos, mas pela fé e pelos desígnios de Deus.  E, assim sendo, por mais forte que seja a dor, a saudade e o sofrimento devemos aprender a dizer para a nossa mente e para o nosso coração: não morro, entro para a vida!
Gesto difícil, porém pedagógico.A morte não nos vencerá!

sábado, 15 de setembro de 2012

A era das pequenas celebridades: as Macabéas de nossos tempos

Foto: Holofotes do sucesso


A história brasileira é tecida de homens e mulheres de memoráveis valores. De Dom Pedro I a Tiradentes, de Tiradentes a Anita Garibaldi, de Anita Garibaldi a Getúlio Vargas, de Vargas a Dom Hélder Câmera, de Dom Hélder a Irmã Dulce da Bahia; Betinho, as incansáveis promotoras da justiça social, Irmã Dorothy e Zilda Arns, entre tantas outras personalidades de reconhecidos serviços prestadas à sociedade e que permanecem no anonimato da história.

Temos também Hebe Camargo, Roberto Carlos, Padre Marcelo Rossi, Luan Santana e Xuxa. Já tivemos a Tiazinha, a Feiticeira, a mulher Melancia, o Bozo e a Vovó Mafalda que andam um tanto quanto desaparecidos. Temos Silvio Santos, o Gugu Liberato e Raul Gil. Sem esquecermo-nos dos milionários vencedores da nave mãe Big-Brother. Quanta alegria eles nos dão! Quanto talento! Quanta capacidade de reflexão! Quanto legado...

Ainda temos as grandes celebridades reconhecidas internacionalmente e que fazem sucesso por aqui: Harry Potter, Robert Pattison e Justin Bieber: o mago, o vampiro, o teen.

Mas, o que me chama atenção mesmo são as celebridades “intermunicipais” ou aquelas “interbairros”. As mesmas de que conhecemos o nome e o sobrenome, com quem nos esbarramos todos os dias quando andamos ao trabalho, no trânsito, na fila do caixa do supermercado. Aquelas que gostam de chamar a atenção dos conhecidos, dos vizinhos, dos amigos e dos colegas de trabalho. Passeiam com o carro 0Km do ano, financiado com prestações a perder de vista, usam roupas de marca que quase sempre nos deixam na dúvida: “É original ou é réplica?”.  Pessoas que aparentam ser, não sendo. Vivem no “faz de conta” da vida, no mundo da fantasia, na Disneyland de seus sonhos e de forma inconscientemente atualizam na concretude de suas relações sociais a pobre Macabéa de Clarisse Lispector.

Evitando, se possível, emitir a construção de um juízo moral, todos nós em algum momento da vida, mais cedo ou mais tarde, somos convidados a experimentarmos os holofotes do sucesso; os louros da vitória, sejam no mundo acadêmico, no mundo do trabalho, do esporte ou das artes. Dentro de nós há uma pequena Macabéa a espera para brilhar como uma estrela. Penso que, a minha, brilha nestas linhas que escrevo...

O valor da dignidade da pessoa, sua singularidade é a maior expressão da vida humana. Acreditamos que cada pessoa é um acontecimento único. Repleta de potencialidades, habilidades, dons e talentos. E é por isso que a pessoa deve acontecer! Na arte, no esporte, na política, no mundo do trabalho. E mais, que seu acontecimento seja uma possibilidade de transformação para as pessoas que as circundam, e para o mundo. Não ocultem a sua luz; deixem que ela brilhe diante de todos. Que as vossas boas obras brilhem também para serem vistas por todos (Mt 15, 14-16). Que sua luz, seu brilho, seu talento ajude a melhorar o mundo e nos melhore. Quanto bem nos faz o talento daqueles que promovem o bem!

Como é digno reconhecer as autoridades constituídas! Come é belo cumprimentar o Governador, o Bispo, o Chefe, sem esquecer-se de acenar ao porteiro da recepção, à mulher do cafezinho e ao dedicado sacristão.  Come é belo reconhecer os embaixadores da fidelidade, do esforço, do trabalho digno e honesto, da paz, da ciência e da cultura. Os embaixadores que organizam a comunidade, o serviço voluntário, as associações de bairros, os movimentos sociais. Aqueles que são constituídos em dignidade.

As pequenas e as grandes celebridades, aquelas que estão longe e aquelas que habitam ao lado são sempre bem vindas. Não podemos cair nas amarras do preconceito, do distanciamento ou na síndrome da inferioridade. Não nos furtemos em reconhecê-las. Em aplaudi-las e reverenciá-las nos momentos justos. Podemos ir até a elas e lhes reservar os primeiros bancos. Isso não é pecado!

 Não nos impeçam, porém, de refletir e questionar o valor de seus legados. São eles que definirão a intensidade de nossos aplausos ou o grito mais amargo de nosso silêncio. Sempre haverá uma “esquina” reservada para o encontro entre o anônimo e o célebre. Macabéa teve a sua: ela brilhou! Tornou-se uma estrela.

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dai a César o que é de César: não se esqueça de cobrar de César

 
Foto: César Imperador Romano


O evangelista Mateus, em seu Evangelho, narra a passagem em que Jesus é provado pelos fariseus a respeito dos tributos cobrados pelo Império Romano. Impostos que oprimiam a classe média e os menos favorecidos. Posto à prova sobre a carga tributária de seu tempo, disse Jesus: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.  Jesus, mestre dos sábios, filho de carpinteiro, cidadão justo e com nome “limpo na praça”, não se furtava em reconhecer a autoridade de César naquilo que era dever e, ao mesmo tempo, não se furtava em revelar a soberania e a realeza de Deus que é infinitamente maior do que o poder de César.

Esta passagem deixa claro que não estava nos planos de Jesus “explodir” com César, deflagrar uma CPI no Senado Romano, depô-lo do poder, e, subitamente, levá-lo para o exílio ou, quem sabe, condená-lo a morte de cruz, mas sim, convertê-lo, evangelizá-lo, torná-lo bom, um novo homem, um novo gestor público. Como quem diz: Não viemos tirar nada de César, ou ainda, confabular contra César, mas, formar César. Mostrar-lhe que tudo o que lhe é dado é dado por Deus, e para o bem dos filhos de Deus, para que se cumpram os desígnios divinos: “Um novo céu e uma nova terra.” A mensagem de Jesus aos fariseus é muito rica. Ele ensina-lhes que César merece receber aquilo que é justo, pois é na Justiça que se estabelece o Reino de Deus.

O Reino de Deus é um reino de ordem. È um reino em construção. Um reino que abriga toda a obra da criação e aguarda pela sua recapitulação definitiva. Quando falamos sobre o Reino de Ordem, estamos falando de uma sociedade organizada, que promove a dignidade da vida e sustenta harmoniosamente toda a obra da criação. É lícito pagar os impostos para César, pois César garantirá, no exercício de seu ofício, a dignidade da vida humana: saúde pública com qualidade, inclusão social para pobres, negros, estrangeiros, órfãos e viúvas. O tributo a César garantirá o tratamento de efluentes, incentivará a produção de novas tecnologias limpas, planejará o desenvolvimento sustentável, fará cumprir um plano diretor que respeite os limites urbanos e de preservação ambiental. É justo dar a César o que é de César, pois assim, César terá fundos para assistir aos acometidos por catástrofes naturais, remunerará com dignidade os profissionais da educação, da saúde e da segurança pública. É com os impostos dos contribuintes que César garantirá a mobilidade urbana, os parques para o lazer, os eventos culturais.  É preciso dar a César o que é de César, para que César faça a sua parte naquilo que é designo de Deus para todo homem: vida em abundância.

A Deus é dado o desígnio de todas as vidas. Em Deus a realidade de todo homem. Em Jesus, Deus feito homem, todo homem se encontra, se santifica, se redime. Nele confiamos e nos salvamos. Isso é dado a Deus! A salvação vem de Deus e não de César. A salvação é obra de Deus que conta com a colaboração do homem, ou seja, com sua abertura humilde, pura e singela de coração. É Deus que salva e não César!

A parte de César é garantir a administração da criação. É permitido por Deus que César o faça; e o faça segundo seu querer benevolente: com justiça e misericórdia.

Que César promova a paz!  Não a guerra! A destruição e a corrupção.

Dai a César o que é de César, para que César faça cumprir na terra a promoção humana: o salário digno, a moradia, a geração de renda.

Dai a César o que é de César, mas não nos esqueçamos de cobrar de César o que é de sua responsabilidade, pois bem sabemos das suas fraquezas.  Sua tendência a acomodar-se com o poder, ser servil aos sistemas que oprimem a classe trabalhadora, nomear pessoas fracas e omissas, como Pilatos, para ocupar cargos públicos e distanciar-se da realidade do povo.

Sejamos fiéis a Deus e justos com César. A César nem o ônus nem o bônus, e sim, a vigilância cidadã.

sábado, 21 de julho de 2012

Um gol a favor do Domingo


Foto: Intimidade

Um já falecido Monsenhor costumava nos dizer que rezar é pensar em Deus com carinho. É deixar com que a nossa mente e toda a nossa atenção se voltem para ele. Na oração, recordar-se do itinerário experimentado ao longo do dia: nossos pensamentos, nossas atitudes; nossa forma de falar, de agir e de ser. É o momento oportuno para o exercício da humildade, perdoar a quem nos ofendeu, e pedir perdão a quem ofendemos. Insistia que a oração não consiste em palavras decoradas e repetidas sem a elevação do espírito. Rezar é entrar na amizade, na intimidade de Deus. Bastariam ao menos, para esse colóquio, sempre quando possível, dois minutos diários com a Palavra de Deus. É a Sagrada Escritura, afirmava, a vitamina, “o Biotônico Fontoura” do cristão forte.

Este velho monsenhor acreditava no poder da Palavra de Deus, não cansava de repetir-nos: “A Palavra de Deus é como uma espada de dois gumes, que penetra no mais íntimo de nosso ser e vai modificando toda a nossa existência, nossa forma de pensar e de agir e de ser”. A oração lapida o homem. Torna-o pessoa mais equilibrada, mais calma, mais justa, mais humana e feliz. Um verdadeiro cristão, finalizava.

Nos tempos modernos nos falta tempo para rezar. Falta tempo para o cristão, para o judeu, para o muçulmano. O dia é muito corrido, muitas são as atividades, há aqueles que defendam que o cansaço do dia a dia, após uma jornada intensa de atividades, por si, se faz oração. O Domingo, o dia do Senhor, dia reservado para o descanso, a meditação e a oração, tornou-se o dia do Shopping, das compras, dos clássicos de futebol. Para muitos, os Shoppings e os Estádios são as novas Catedrais. Segundo Dom Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, vivemos em uma época em que os “Deuses” da moda e da bola ocupam os altares principais de nossos Domingos. Padre Vilmar Adelino Vicente, professor de Moral Social, costuma afirmar em suas aulas que são muitos os quem defendem os comércios abertos aos Domingos, mas, são poucos os que se preocupam com as portas das Igrejas fechadas aos Domingos. Vivemos em um tempo onde cada vez mais os Domingos se parecem com os sábados e os sábados com os Domingos, se não fosse, claro, a segunda –feira, que o Domingo nos insiste em recordar.

A dessacralização do Domingo também toca a responsabilidade de nossos líderes religiosos. Quais são os trabalhos oferecidos na vida eclesial aos Domingos? Como anda a qualidade das homilias dominicais? Os horários das celebrações são adequados à dinâmica da vida local? Porém, ainda que estes sejam argumentos lógicos para dificultar a vivência do Domingo, não são fortes o suficiente para fazer-nos esquecer que o Domingo é o Dia do Senhor. É o dia de visitar a casa daquele que nos visita durante toda a semana. De devolver-lhe um pouco de tudo o que a sua infinita bondade nos concedeu: a vida, a alegria, o nosso sorriso, a nossa voz, o nosso canto, enfim, a nossa vivência litúrgica.

A conciliação do tempo é sempre a via da maturidade e do equilíbrio. Quanta alegria está em sair com os amigos, assistir a uma partida de futebol, caminhar nas montanhas, na beira de uma bela praia, nadar, correr. Quanto bem nos faz dar uma prova de maturidade e responsabilidade ao dizer: “Chegou a minha hora, preciso ir. Ele me espera! Preciso visitar aquele que não se cansa de me visitar”. E ao chegarmos a sua casa estabelecemos uma intensa conversa de velhos amigos, relembrando-se de coisas da vida, dificuldades, alegrias, desafios. Pede-se perdão pelas faltas cometidas, glorificam-se as maravilhas da criação, participa-se do banquete. Nós falamos, Ele nos escuta. Às vezes, não falamos nada e, no silêncio, escutamos tudo. Pode ser que ambos permaneçamos em silêncio, mas, mesmo assim sentimos a presença um do outro.  E isso nos basta!

Quanto à nossa vivência dos Domingos junto dele, descobrimos que Ele não é ciumento, controlador, possessivo, basta conciliar. O que não podemos é correr o risco de botá-lo no banco de reservas. No Domingo, ele é o titular! Mas o gol, somos nós que fazemos.
Bom passeio! Bom clássico! Mas estejamos atentos ao horário da celebração! Ele nos espera.

domingo, 8 de julho de 2012

A vida da gente

















Quando criança nossos pais são as pessoas mais inteligentes do mundo.
Quando Jovem nossos pais são as pessoas mais ultrapassadas do mundo.
Quando adulto nossos pais são as nossas maiores riquezas.
Quando idoso nossos pais são as nossas melhores lembranças e nossas mais fortes saudades.

Quando criança nossos irmãos são vistos como generais.
Quando jovem nossos irmãos são vistos como amigos.
Quando adulto nossos irmãos são vistos como força e sustento.
Quando idoso nossos irmãos são vistos como a melhor herança que herdamos.

Quando criança a escola é vista como castigo.
Quando Jovem a escola é um encontro social.
Quando adulto a escola é entendida como oportunidade.
Quando idoso a escola é pensada como aprendizado.

Quando criança o sexo oposto é o grande rival.
Quando jovem o sexo oposto é o fruto do  desejo.
Quando adulto o sexo oposto é a possibilidade de união.
Quando idoso o sexo oposto é visto como companheiro.

Quando criança o trabalho é coisa de gente grande.
Quando jovem o trabalho é uma questão de vestibular.
Quando adulto o trabalho é questão de sustento.
Quando idoso o trabalho é realização.

Quando criança o casamento é visto como coisa do papai e da mamãe.
Quando Jovem o casamento é coisa do futuro.
Quando adulto o casamento é um encontro definitivo.
Quando idoso o casamento é a celebração de uma aliança eterna.

Quando criança a fé é rezar para o papai do céu.
Quando Jovem a fé é ir à igreja aos finais de semana.
Quando adulto a fé é pedir a Deus força para enfrentar os obstáculos da vida.
Quando idoso a fé é agradece a Deus o dom da vida.

Quando criança a velhice é o vovô e a vovó.
Quando Jovem a velhice nunca chegará.
Quando adulto a velhice é aquela que insiste em bater.
Quando idoso a velhice é o presente.

Quando criança a morte é ir para o céu.
Quando Jovem a morte é algo que está longe.
Quando adulto a morte é uma realidade que dá medo.
Quando idoso a morte é uma visita inesperada.

Infância, pai, mãe, sexo, escola, trabalho, casamento, família, fé, velhice, morte. É a vida! A vida da gente. E não é novela. É realidade! E esses capítulos somos nós que escrevemos.

domingo, 17 de junho de 2012

A curiosidade do gato, árvore de Zaqueu e a coluna da Praça de São Pedro


                                                                   



Foto: Jovens palestinos oferecem 'kefyieh' ao Papa


Roma, a Cidade eterna, berço de cultura, de imponente arquitetura, do Direito e da Fé é, também, o símbolo da unidade e da comunhão dos cristãos católicos. É na Praça de São Pedro, Estado do Vaticano, que se esbarram turistas de diversas partes do mundo: peregrinos, devotos, turistas, agnósticos. Misturam-se muçulmanos, budistas, crentes e não crentes. A Praça de São Pedro é ponto de encontro de diversas etnias e culturas no coração da “velha Itália”. Quando paramos para observar as pessoas que a visitam conseguimos prontamente distingui-las e subitamente perceber os possíveis motivos que as trouxeram até ali.

Os sucessivos flashes fotográficos, um olhar de descaso, uma Ave-Maria e um Pai nosso, vão identificando e revelando suas reais motivações. Quando entre elas se escuta um grito como: “lá vem o Papa”, é impressionante! Subitamente as pessoas se movimentam, espremem, buscam identificar por onde o Papa passará e procuram o melhor ângulo para clicá-lo. Os olhos fixos num ponto, os crentes tentam se aproximar, os menos crentes procuram dar espaços aos mais crentes, e os não crentes guardam com atenção o movimento na Praça em direção ao Papa. Quando os portões interiores do Vaticano são abertos, e o Papa aparece escoltado pela Guarda Suíça, a multidão grita: “o Papa, o Papa, é o Papa”. São vozes em italiano, em francês, alemão, português, árabe, inglês. Gritam os filipinos, os latinos, os orientais. Bento XVI passa, acena, faz o sinal da cruz e prossegue. É impressionante como neste momento a unidade visível toma conta da Praça.

É verdade que estes olhares não simbolizam a fé. Não são necessariamente olhares de fé.  Não significa fidelidade e unidade com o Romano Pontífice. São olhares de curiosos, de críticos, de turistas. Mas, não se pode negar a intensidade dos olhares. É evidente que a curiosidade favorece a atenção, e a atenção, por sua vez, faz com que os olhos fiquem atentos, os ouvidos abertos e as pontas dos pés esticadas para melhor visualizar o fato. Naquele momento o movimento da curiosidade favorece a unidade entre turistas, crentes e não crentes.

Recordo que na primeira vez em que fui à Praça de São Pedro e aguardava com ansiedade a chegada do Papa, o que mais me chamou atenção foi uma senhora muçulmana, com véu, que se equilibrava sobre uma coluna para melhor fotografá-lo. Pensei comigo: “Quanta curiosidade e pouca fé”. Mas logo me veio à mente: “Que mal tem a curiosidade?” “Não foi pela curiosidade que Zaqueu subiu na árvore para ver Jesus passar?” “Por que essa mulher não poderia, em nome da mesma curiosidade, apoiar-se em um pilar para ver o Papa passar?” Diria uma pessoa mais crítica e de melhor bom senso: mas, o Papa não é Jesus. Claro que não! Não é, e nunca será! O que há de comum entre Zaqueu e esta mulher mulçumana não é a figura do Papa, mas sim, a curiosidade.

E, o que Deus é capaz de fazer a partir da curiosidade, somente Ele sabe. Com Zaqueu, fez abrir a porta de sua casa, preparar-lhe um jantar e devolver tudo aquilo que tinha extorquido dos mais pobres. O que a curiosidade poderia fazer com essa mulher? Bom, não sei! Talvez torná-la uma muçulmana melhor, mais fiel a seu credo, feliz, flexível, ecumênica. Talvez ele lhe pedisse uma estadia em sua casa, um lugar em sua mesquita, um jantar; uma kibada, uma kafta, uma esfiha. Não sabemos!

            Estar na Praça de São Pedro é ver a fé acontecer. É experimentar o sentido de unidade. É sentir as coisas da vida: a vaidade, a intriga, o poder, o limite humano.  Mas é também ver um sinal de unidade, de comunhão, de respeito e de fraternidade. Lá o humano e o divino se encontram. A instituição e o carisma. O pecado e a graça. A humanidade e a divindade. A fé e a curiosidade.  Alguns entram com a fé, outros com a curiosidade, e Deus, por si, tira proveito de ambos. Dizem as Escrituras que as prostitutas nos precederão no Reino dos Céus e, por que não, com elas, os curiosos? O ditado popular diz que “a curiosidade matou o gato”, pois sempre cai na armadilha.  Mas, no caso de Zaqueu – e de tantos curiosos, prefiro afirmar: Matou nada! Ela o converteu.