quarta-feira, 15 de junho de 2011

Chama o Espírito Santo, menino!

Foto: Espírito em nós!


“No princípio, o espírito pairava sobre as águas” (cf. Gn1, 1).

No princípio, o espírito de Deus pairava sobre as águas (cf. Gn 1,1). Depois, Deus soprou seu espírito de vida nas narinas do homem (Gn 2, 7). Santificou o homem e toda a obra da criação. O Espírito de Deus está em toda a criação. Move-se nos homens, no mundo criado, nos animais, nas plantas. É presença constante, viva e amorosa de Deus em nós e conosco. Por isso, é nosso advogado, consolador, santificador. Aquele que nos é dado em nosso favor.

Quando eu era pequenino, aprendi com minha mãe a chamar o Espírito Santo nas horas mais difíceis, nas situações mais tensas, ou nas horas em que estava precisando de elucidações, como antes de uma prova difícil, às vésperas de tomar uma decisão importante, ao realizar uma atividade de risco, ou ainda, para buscar coragem frente os conflitos da vida e até mesmo para aspirar bons sentimentos em favor dos relacionamentos.

Sempre seguia fielmente o conselho dela, principalmente antes das provas de matemática, que sempre foi para mim um tormento, porém, mal sabia eu, que o Espírito Santo é tão eficaz e aperfeiçoador que mais tarde me conduziria até ao curso de engenharia. Haja força! Mas não para por aí! Não foram poucas às vezes que chamei o Espírito Santo para tomar uma decisão difícil, como permanecer neste curso ou trocar de curso? Avanço ou recuo? E após um bom tempo de evocação sempre tomava uma decisão plausível, e fazia-o seguro, pois sabia que, se errasse, erraria sobre o conhecimento do Espírito Santo. Quando tinha que pedir desculpas para alguém, concertar um erro pedia para que o Espírito Santo me desse a coragem necessária para olhar nos olhos da pessoa e pusesse as palavras certas em minha boca. Como era difícil! Como é difícil! Mas sempre, quando o invocava, por incrível que pareça, a situação fluía naturalmente e na maioria das vezes a conversa era mais curta e suave do que eu esperava. Também havia momentos em que eu clamava para o Espírito Santo pedindo que abrandasse meu coração, que tirasse a raiva, o rancor, permitindo assim que me relacionasse melhor, vencesse minha timidez, minha vergonha, minha limitação. Claro que as coisas não aconteciam de imediato, mas, tudo ia se ajustando no remar da vida, ou melhor, no soprar do Espírito.

Hoje, percebo como foi válido aprender e poder contar com o Espírito Santo. Compreender ele como o advogado, o consolador, o amigo, a presença e o consolo em diferentes etapas de minha vida. Na medida em que reconheço sua presença amiga em minha vida, reconheço a distância que se estabelece entre ele e as novas gerações. Os jovens parecem não mais conhecê-lo. Não clamam por sua ajuda antes daquela prova difícil, na hora do “aperto”, às vésperas de apresentarem um trabalho, projeto, ou fazer uma viagem e pedir sua proteção. Parece que aposentaram o advogado, contentam-se com o acaso, com o trivial e não buscam o aperfeiçoador. Aqueles antigos santinhos impressos com a imagem de uma pomba, símbolo do Espírito Santo, que muitos jovens traziam na carteira para dar-lhes proteção no dia a dia, são coisa do passado. O Espírito Santo é um ilustre desconhecido na prática da vida.

Não ecoa mais entre os jovens a esperança no Espírito Santo para a elucidação de questões temerosas e para o encorajamento diante dos obstáculos da vida. A distância do Espírito Santo aposenta até mesmo aquela velha tentação humana de deixar tudo por conta do Santo Espírito.
O misticismo, a devoção, a amizade, o companheirismo parecem estar fragilizado na relação entre o Espírito Santo e as novas gerações. É verdade que surgem movimentos eclesiais que propagam a devoção e o louvor ao Espírito Santo, mas, ainda está longe de ser o que foi no passado: o amigo e advogado.

Quando reflito sobre o Espírito Santo estendo minha compreensão na íntima relação do Mistério da Santíssima Trindade. Gosto de relembrar o conceito de Santo Agostinho: o Espírito Santo é o amor na relação entre o amante (Deus) e o amado (Jesus). É o santificador de toda a obra da criação e da redenção. Mas, de volta ao chão da vida, o que mais ecoa em minha lembrança e memória é a velha catequese que aprendi de minha mãe: “Meu filho, quando você estiver apertado, chame o Espírito Santo.” E, de fato, quando estou em situação de risco, de “aperto”, esta é a minha primeira atitude, clamar pelo Espírito Santo; algo que aprendi graças à minha mãe. Talvez seja esta a raiz da questão: os pais não apresentam mais o Espírito Santo aos filhos que, por sua vez, encontram diversos outros espíritos, menos edificantes e menos santos ao longo de suas vidas espalhadas pelo mundo.



Vilmar dal-Bó Maccari