quinta-feira, 2 de junho de 2011

O ciclo da vida: equilíbrio no amor e no adeus

Foto:vidas



Um casal apaixonado que abraça a vida matrimonial sabe muito bem que este estado de vida supõe a geração e criação de filhos. Gerar os filhos e criá-los com amor e zelo faz parte da dinâmica matrimonial. Ainda que muitos casais não possam ter filhos, a adoção é uma via de superação. Os filhos são a continuidade do amor matrimonial perpetuado na história.

Tudo é muito previsível e compreensível, nada de novo se dá, a não ser o fato de que um dia este amor prolongado na história, a família, também crescerá, amadurecerá e resolverá sair de casa: assim como seus pais, perpetuarão também eles seu amor. É o momento em que os filhos deixam suas casas para constituir uma nova família. Pai e mãe, depois de anos educando e convivendo com seus filhos, sentem-se como abandonados quando estes têm de partir. Sofrem! E sofrem com razão. É um amor que se desprende, uma extensão de seu concreto existencial que vai morar em outro endereço: outra rua, bairro, cidade, estado, país. Neste momento se dá o choque de realidade do casal: o famoso “enfim sós”. Começaram sua vida matrimonial sem filhos, eles nascem, crescem e terminam suas vidas longe deles. É a dinâmica do “adeus”! E os pais sabem muito bem o que é isso, porque um dia também deram “adeus” aos seus pais, e partiram. No fundo, é isso que não os faz impedir que seus filhos dêem “adeus”, mesmo que o sofrimento aperte o peito. Sabem que é preciso dizer adeus!

Não tenho dúvida de que este sofrimento pode ser minimizado ou reduzido quando os pais vivem o matrimônio de forma saudável. Esta saúde está na vivência conjugal entre marido e mulher. Saúde que consiste em não colocar os filhos acima da vida conjugal. Quando isso ocorre, há um grande risco de desordem familiar. A prioridade da esposa é seu esposo, a prioridade do esposo é sua esposa e, de ambos, os filhos. Quando uma parte do casal ama mais seus filhos do que seu cônjuge há um descompasso na relação familiar e a partida dos filhos, quando chegar o momento, pode tornar-se traumática.

Um casal que tem o relacionamento como prioridade na vivência familiar saberá com muita maturidade superar a partida dos filhos. Sabem que se amam e se complementam ao ponto de superar a saudade. Mas, quando o casal não tem seu relacionamento conjugal como prioridade na vivência familiar, terá dificuldade de preencher a falta que o filho fará, e isso os levará a depender das “migalhas” de recordações da infância e do passado, não vivendo o tempo presente. Sentir-se-ão abandonados, envelhecidos, inúteis, esquecidos. Castigados pelos fios de cabelos brancos e pelo tempo que passou tão depressa. Tudo porque puseram o amor aos filhos acima do amor conjugal.

Casal que se ama acima dos filhos é casal que sabe respeitar o universo dos filhos, que não tem medo de envelhecer juntos, esperar a morte juntos, mas que, acima de tudo, repetem a história de seus pais, e sabem que seus filhos a repetiram tal qual. Eis o ciclo da vida: o amor sóbrio que respeita o exercício do amor do outro, mesmo quando o outro é o próprio filho. Eis o ciclo da vida dos pais: verem os filhos partirem como eles um dia partiram da casa de seus pais e, o que é mais difícil, saber lidar com o adeus de um filho.

Vilmar Dal-Bó Maccari