sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Faz tempestade: chove lá fora

Foto: nervosismo

Diz um velho ditado popular: “Depois da tempestade sempre vem a bonança”. Com base neste sábio dito popular, tomo a liberdade de complementá-lo: “Depois da tempestade sempre vem a cbonança e, com ela, o sentimento de alívio”.

Em tempo de tempestade somos lançados nas turbulências da vida, deparamo-nos com as nossas inseguranças, fragilidades e incertezas: somos tomados pelos mais íntimos sentimentos de medo e abandono. É durante a tempestade que imaginamos submergir nos problemas e nas situações aparentemente desalentadoras. Por mais que tenhamos consistência e estrutura emocional, intelectual e espiritual para enfrentarmos e atravessarmos as tempestades da vida, esta sempre desnudará algumas de nossas fragilidades humanas: chove lá fora e se faz tempestade em nosso interior. As turbulências externas provocam uma verdadeira tempestade interior, são os momentos denominados de crises, provações, desafios e, para os místicos, as chamadas “noites escuras”. Não há como prever o tempo e o período de chegada da tempestade. O certo, porém, é que todos, mais cedo ou mais tarde, com maior ou menor intensidade, passaram por ela na vida. Relatos de santos com São João da Cruz e Madre Teresa de Calcutá revelam períodos de “noites escuras” em suas vidas durante intensa busca de perfeição e santidade vivida na caridade e na contemplação. O ser humano experimenta o limite da turbulência na condição de viver.

Voltando ao sábio dito popular: este nos ensina que, após a tempestade, sempre vem a bonança. O que vem a ser esta bonança? Seria o silêncio compassivo de aceitação da derrota diante das turbulências da vida? Ou, quem sabe, o acomodamento, a inércia e o escondimento para não enfrentar uma nova crise? Não! O tempo de calmaria nada tem a ver com desolação, aceitação do fracasso, desânimo, conformismo ou estagnação perante as provações.

Bonança é a certeza de um porto seguro, de uma maré tranqüila, e de uma terra firme para aqueles que perseverarem nos embates da vida. É o sentimento do dever cumprido e a consciência tranqüila por todo empenho humano em contornar os percalços da vida. Calmaria é o tempo que apazigua os sentimentos de medo, saudade e abandono. Faz-nos olhar os problemas da vida sob uma nova ótica. Somente passando pelas tribulações, enfrentando as tempestades e encarando a realidade podemos de fato compreender o estado de bonança, paz.
Talvez seja muito parecido com o sentimento do Apóstolo Paulo quando nos fala: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé; agora está reservada para mim a coroa da justiça” (2Tm 4,7). Quando enfrentamos os nossos problemas com dignidade, esgotamos todas as alternativas de soluções e buscamos humildemente ajuda para resolvê-los, gozando de paciência e equilíbrio sem cairmos nas amarras da revolta e do distanciamento de Deus e das pessoas, mesmo que não consigamos resolvê-los imediatamente, a nós é reservada a coroa da bonança: um tempo de paz, equilíbrio e segurança.
Quando vivemos este tempo de bonança, tempo de certeza e convicção de que tudo foi feito para superar as tempestades da vida: mesmo que chova lá fora, dentro de nós brilhará o sol, porque estamos repletos da sensação de alívio. Quem enfrenta seus problemas com maturidade atravessa as tempestades com equilíbrio, e busca fazer das crises um momento de aprendizado e crescimento sem revoltas, receberá indissoluvelmente a coroa da paz. Assim foi com São Paulo, com São João da Cruz e com Teresa de Calcutá e, sem dúvidas, será com todos aqueles que não esmorecerem em seus desafios, completarem a corrida e guardarem a fé. Aqueles que perseverarem, mesmo que chova lá fora, serão agraciados e aquecidos pelo sol do alívio e da paz.

Vilmar Dal-Bó Maccari