terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A ditadura da positividade

Foto: Um grito de liberdade

Por favor, deixe-me sofrer. Demonstrar toda minha fragilidade, minha angústia e minha dor. Dê-me o direito de chorar, de sentir-me fraco, de ficar só. Permita confrontar-me com o silêncio ríspido que habita em meu peito. Não impeça minhas lágrimas de caírem, meus lábios de sussurrarem, minhas mãos de tremerem. Não me obrigue a vestir a roupa de um super-herói, de ser o mocinho da trama perfeita quando tudo parece imperfeito. Deixe-me viver minhas dores, meus acertos e derrotas, meus conflitos e minhas incógnitas.

Não me faça vítima do “está tudo bem”, ou do “você é forte!” da falsa alegria que possa lhe agradar.

Deixe-me chegar em segundo lugar. Deixe-me não ser o mais brilhante, o mais forte, estar fora dos padrões convencionais de estética e não pense que sou um derrotado. Deixe-me ser o que sou, o que vivo, o que sinto e o que acredito. Deixe-me fazer o que gosto, ser feliz para mim mesmo e não para agradar os outros. Livre-me da ditadura da positividade que esconde meus sentimentos, dúvidas, medos e produz alguém que sou e desconheço. Deixe-me lidar com meus medos, resolver meus problemas, acolher minhas incertezas. Deixe-me cair, sofrer, arriscar. Mais vale a liberdade que acolhe o sofrimento, do que a pressão da ditadura que impõe a felicidade.

Deixe-me sofrer, quem sabe, assim, após tudo, sorrirei melhor e mais livre para você.

Vilmar dal-Bó Maccari