sábado, 24 de julho de 2010

O vazio filosófico – crise de valores



O mundo nos oferece múltiplas oportunidades na vivência, estamos em uma época de livre escolha. Somos impregnados de informações, caminhos e possibilidades. Nunca se soube tanto de tantas coisas e, ao mesmo tempo, nunca se soube tão pouco de uma única coisa. Temos muitas informações e pouquíssimos conhecimentos sistematizados. Somos uma geração limítrofe no que diz respeito à especialidade e doutores no que se refere à generalidade. Conhecemos muito e sabemos pouco. Falta-nos sabedoria! Será?

As tomadas de decisões, os posicionamentos, as reflexões críticas são cada vez mais generalizantes e pouco específicas. Somos mestres na superficialidade. Pessoas palpiteiam, defendem posicionamentos, constróem argumentos inconsistentes e falidos com base nas superficialidades das informações momentâneas. Caímos assim no subjetivismo minimalista.

A Ética e a Moral são as maiores vítimas desta “generalização” que abate a sociedade. Os valores morais e éticos que iluminam o agir humano, frutos da liberdade e da responsabilidade, nunca foram tão assaltados. A filosofia, ciência mãe de todo o conhecimento, foi atropelada nestes “generalismos” comodistas que ousam saber de tudo em uma curta fração de tempo. Os conceitos filosóficos dos maiores pensadores que permeiam todas as ciências do conhecimento humano são ignorados numa forma volátil de transmitir uma informação em um curto espaço de tempo. Defendem-se situações conflitivas como o aborto, a eutanásia, as drogas, as guerras, experiências genéticas sem a preocupação com o pleno domínio de conceitos considerados fundamentais para as tomada de posições: dignidade, liberdade, pessoa, consciência e vida. As tomadas de decisões no campo ético e moral, inerentes ao agir não pertencem a um determinado grupo, tribo ou classe, seja médica, jurídica, psicológica ou sociológica. Os conceitos que envolvem a vida ultrapassam os códigos e as normas do poder autoritário. Uma classe não pode interferir naquilo que é inerente à construção da totalidade da pessoa (ontologia). O saber fragmentado é um crime para sociedade. Abandonando a filosofia, muitos pensam estar aptos para desvinculá-la daquilo que é próprio de sua função: conhecer e revelar a verdade essencial do ser humano.

O laxismo moral e a falta de posicionamentos lúcidos são os maiores inimigos da humanidade. Nunca tivemos uma sociedade tão livre e tão doente. Contamos com pessoas tão bem preparadas, formadas, intelectualizadas, porém, cada vez mais frágeis e fragmentadas. Pessoas que estão à procura e não estão encontrando; estão apaixonadas, mas não estão amando; estão passando pela vida, mas não estão vivendo. Falta consistência nos relacionamentos, autenticidade. Falta filosofia, quem sabe, a filosofia do amor.

Retirem a filosofia da sociedade, dos relacionamentos e das condutas profissionais e estaremos fadados a um desmoronamento social. A Ética e a Moral estão em crise, pois os princípios balizadores de conduta nunca foram tão questionados, desafiados e negados.
O preço da liberdade sem a devida responsabilidade está enfraquecendo as pessoas. O vazio filosófico em um mundo tão informado é a expressão de grandes conhecedores repletos de um vazio que se presume sabedoria.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Benditas sejam nossas turbulências


Todo ser humano passa por turbulências em sua vida. Por mais apaixonante que seja viver, é impossível passar pela vida sem sentir as fagulhas do sofrimento. É no caminhar pela vida que sentimos o sofrimento bater à porta. Todavia, experimentar as turbulências inesperadas da vida e buscar alternativas para suportá-las é o grande desafio da arte de viver.

Diante delas, somos provados em nossa capacidade de contornar obstáculos, abrir janelas, alargar conceitos e não perdermos o sentido maior de nossa existência.

Quando o homem mergulha no mais íntimo de sua condição humana, defronta-se com o emblemático e silencioso embate entre as misérias humanas, emoções e realizações. O homem aspira viver dias felizes, mas geralmente não sabe lidar com seus sentimentos, de modo que a felicidade é intensamente sonhada, porém, raramente alcançada.

A felicidade exige esforço, fôlego para vencer a inércia paralisante do desânimo, do conformismo, da indecisão e do medo de mudar. Abrir novas janelas, percorrer novos caminhos, alargar horizontes são desafios constantes para quem decide persistir no caminho da felicidade.

Turbulência não é sinal de infelicidade, pelo contrario, é a oportunidade desafiadora para não desistirmos de ser felizes. Enquanto encontramos forças para lutar, motivos para recomeçar e razões para acreditar, atualizamos o sentido fundamental de não desistirmos da vida, e então encontramos o segredo da arte de viver.

Jesus nos ensinou que não passaríamos pela vida sem combates, mas garantiu o cêntuplo para os que perseverassem.

Não tenhamos medo de iluminar os porões de nossa vida, abrir as janelas de nossos sótãos, passear pelo íntimo de nossa alma, assumir nossas fragilidades, reconhecer nossas potencialidades. O cêntuplo prometido por Jesus não foi para aqueles que gozam de certezas, mas para aqueles que caminham da soberba à simplicidade, do julgamento ao respeito, da discriminação à solidariedade, da insensatez à sabedoria e do ódio ao amor.

Toda provação é sinal de vida. Deus nos quer na vida, vencendo as turbulências da vida e não por elas derrotados.

Bendito seja DEUS que nos acolhe em nossas turbulências e nos conduz a um porto seguro.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A ternura na condição da existência




Em âmbito teológico não é comum a reflexão sobre a existência cristã e o mandamento novo numa ótica de ternura, afirma Carlos Rocchetta, renomado professor de teologia da Pontifica Universidade Gregoriana de Roma e da Faculdade Teológica de Florença, Itália. Todavia, a reflexão da ternura de Deus é de fundamental importância para revelarmos ao mundo a bondade, a alegria e a graça de Deus que afugentam qualquer tipo de medo e punição a ELE atribuídos. A ternura no seio do cristianismo supõe, de fato, o anúncio do amor, da alegria e da graça, cumprimento pleno da vida de Jesus Cristo relatada no Evangelho.

A ternura, experiência de liberdade de amar e anúncio de acolhimento, é o enriquecimento mais valioso e positivo na construção de um diálogo respeitoso e humano num mundo marcado mais pelas diferenças.

Foi um coração cheio de ternura, muito mais do que normas e leis, que levou Jesus a transpor as barreiras sociais, culturais, religiosas e políticas impostas em seu tempo.
A mediocridade, o preconceito, a discriminação e a incompreensão são sinais visíveis da falta de ternura no coração humano.

Homens e mulheres são chamados à escola da ternura. A olharem o mundo do mesmo modo que Jesus olhou. Presença entre os mais fracos, doentes e abandonados: somente um coração cheio de ternura é capaz de suportar as fragilidades dos que estão em nossa volta.

Freqüentar a escola da ternura é enfrentar diariamente os embates da vida com as armas do perdão, da alegria e do amor. É desmontar a injustiça, a ganância e a mentira com a prática da justiça, da partilha e da verdade. Somente um coração terno é capaz de fazer escola em Jesus, alargar horizontes, experimentar o amor, aceitar os outros como pessoas, fazendo-se ternos consigo mesmos, irradiando no mundo a força do amor humilde: amor que ama além das fragilidades.