terça-feira, 17 de maio de 2011

Leões urbanos: o que ruge?

Foto: Eu

Leão tem casa, endereço, identidade e trabalho. E olha que não estou falando das selvas, das jaulas, dos circos ou dos parques temáticos. Refiro-me aos leões urbanos, estes que encontramos cotidianamente pelas ruas, no trabalho, nos shoppings, nas igrejas. Leões que enfrentamos diariamente, e somos convidados a domar muitos deles.


Certa vez ouvi uma história que me chamou atenção. Dizia: “Um velho sábio disse a uma criança que dentro de todo homem existem dois leões: um calmo e manso e outro, agitado e feroz. Então, o sábio perguntou à criança: - Qual destes leões é o mais forte? A criança lhe respondeu: - Certamente o mais agitado e feroz! O velho sábio então lhe disse: - Muito bem, meu pequenino, você julgou pelos olhos do mundo, onde a agitação e a ferocidade estão associadas à força e ao poder. Mas eu lhe digo: o mais forte será aquele que você alimentar com maior freqüência. Com isso, a criança compreendeu o segredo da força interior”.


Todos nós temos um leão em nosso interior. Tornamo-nos ferozes quando incomodados ou dóceis quando afagados. Somos como jaulas de abrigo.

Quando abrimos nossas jaulas e soltamos nossos leões, estamos sujeitos a machucar, a ferir e a colocar em risco os nossos relacionamentos, pois dificilmente saberemos qual dos leões sairá de dentro de nós por primeiro. O leão civilizado, protetor que ampara e encanta ou o leão que assusta, não perdoa e devora. Qual dos leões terá mais força dentro de nós?


A história do velho sábio nos diz que esta decisão é nossa. Podemos alimentar o leão da lealdade, da fidelidade, da força da coragem e do domínio das paixões, ou então, podemos dar alimento ao leão da intriga, da divisão, da mentira, do preconceito, da inveja e do laxismo: “És responsável por aquele que cativas!”, disse o Pequeno Príncipe. Diria: “És responsável pelo leão que alimentas dentro de ti”.

Não podemos fugir do leão que existe dentro de nós. O que podemos, e devemos certamente, é investigar como estamos alimentando este leão. O que lhe estamos dando de comer? Com que intensidade ele ruge dentro de nós?

A espiritualidade é sempre um bom caminho para alimentar estes leões: gestos de civilidade, educação, boas obras, contato com o Sagrado.

Em tempos de competições acerbadas, onde o profissionalismo, a técnica e o lucro imperam na sociedade, pergunta-se: São estes os melhores alimentos para o leão humano?


O leão está a rugir! Ruge com suas palavras, com seus gestos, com sua forma de pensar e agir. Externalizamos no cotidiano o leão que alimentamos. Dentro de nós está vencendo o leão que somos.

Vilmar Dal-Bó Maccari