Foto: Jovens palestinos oferecem 'kefyieh' ao Papa
Roma, a Cidade eterna, berço de
cultura, de imponente arquitetura, do Direito e da Fé é, também, o símbolo da
unidade e da comunhão dos cristãos católicos. É na Praça de São Pedro, Estado
do Vaticano, que se esbarram turistas de diversas partes do mundo: peregrinos,
devotos, turistas, agnósticos. Misturam-se muçulmanos, budistas, crentes e não
crentes. A Praça de São Pedro é ponto de encontro de diversas etnias e culturas
no coração da “velha Itália”. Quando paramos para observar as pessoas
que a visitam conseguimos prontamente distingui-las e subitamente perceber os
possíveis motivos que as trouxeram até ali.
Os sucessivos flashes fotográficos,
um olhar de descaso, uma Ave-Maria e um Pai nosso, vão identificando e
revelando suas reais motivações. Quando entre elas se escuta um grito como: “lá
vem o Papa”, é impressionante! Subitamente as pessoas se movimentam, espremem,
buscam identificar por onde o Papa passará e procuram o melhor ângulo para clicá-lo.
Os olhos fixos num ponto, os crentes tentam se aproximar, os menos crentes
procuram dar espaços aos mais crentes, e os não crentes guardam com atenção o
movimento na Praça em direção ao Papa. Quando os portões interiores do Vaticano
são abertos, e o Papa aparece escoltado pela Guarda Suíça, a multidão grita: “o
Papa, o Papa, é o Papa”. São vozes em italiano, em francês, alemão, português,
árabe, inglês. Gritam os filipinos, os latinos, os orientais. Bento XVI passa,
acena, faz o sinal da cruz e prossegue. É impressionante como neste momento a
unidade visível toma conta da Praça.
É verdade que estes olhares não
simbolizam a fé. Não são necessariamente olhares de fé. Não significa fidelidade e unidade com o
Romano Pontífice. São olhares de curiosos, de críticos, de turistas. Mas, não
se pode negar a intensidade dos olhares. É evidente que a curiosidade favorece
a atenção, e a atenção, por sua vez, faz com que os olhos fiquem atentos, os
ouvidos abertos e as pontas dos pés esticadas para melhor visualizar o fato.
Naquele momento o movimento da curiosidade favorece a unidade entre turistas,
crentes e não crentes.
Recordo que na primeira vez em que
fui à Praça de São Pedro e aguardava com ansiedade a chegada do Papa, o que
mais me chamou atenção foi uma senhora muçulmana, com véu, que se equilibrava
sobre uma coluna para melhor fotografá-lo. Pensei comigo: “Quanta
curiosidade e pouca fé”. Mas logo me veio à mente: “Que mal tem a
curiosidade?” “Não foi pela curiosidade que Zaqueu subiu na árvore para ver
Jesus passar?” “Por que essa mulher não poderia, em nome da mesma
curiosidade, apoiar-se em um pilar para ver o Papa passar?” Diria uma
pessoa mais crítica e de melhor bom senso: mas, o Papa não é Jesus. Claro que
não! Não é, e nunca será! O que há de comum entre Zaqueu e esta mulher
mulçumana não é a figura do Papa, mas sim, a curiosidade.
E, o que Deus é capaz de fazer a
partir da curiosidade, somente Ele sabe. Com Zaqueu, fez abrir a porta de sua
casa, preparar-lhe um jantar e devolver tudo aquilo que tinha extorquido dos
mais pobres. O que a curiosidade poderia fazer com essa mulher? Bom, não sei!
Talvez torná-la uma muçulmana melhor, mais fiel a seu credo, feliz, flexível,
ecumênica. Talvez ele lhe pedisse uma estadia em sua casa, um lugar em sua
mesquita, um jantar; uma kibada, uma kafta, uma esfiha. Não sabemos!
Estar na
Praça de São Pedro é ver a fé acontecer. É experimentar o sentido de unidade. É
sentir as coisas da vida: a vaidade, a intriga, o poder, o limite humano. Mas é também ver um sinal de unidade, de
comunhão, de respeito e de fraternidade. Lá o humano e o divino se encontram. A
instituição e o carisma. O pecado e a graça. A humanidade e a divindade. A fé e
a curiosidade. Alguns entram com a fé,
outros com a curiosidade, e Deus, por si, tira proveito de ambos. Dizem as Escrituras
que as prostitutas nos precederão no Reino dos Céus e, por que não, com elas,
os curiosos? O ditado popular diz que “a curiosidade matou o gato”, pois sempre
cai na armadilha. Mas, no caso de Zaqueu
– e de tantos curiosos, prefiro afirmar: Matou nada! Ela o converteu.