Foto: Holofotes do sucesso |
sábado, 15 de setembro de 2012
A era das pequenas celebridades: as Macabéas de nossos tempos
quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Dai a César o que é de César: não se esqueça de cobrar de César
sábado, 21 de julho de 2012
Um gol a favor do Domingo
Um já falecido Monsenhor costumava nos dizer que rezar é pensar em Deus com carinho. É deixar com que a nossa mente e toda a nossa atenção se voltem para ele. Na oração, recordar-se do itinerário experimentado ao longo do dia: nossos pensamentos, nossas atitudes; nossa forma de falar, de agir e de ser. É o momento oportuno para o exercício da humildade, perdoar a quem nos ofendeu, e pedir perdão a quem ofendemos. Insistia que a oração não consiste em palavras decoradas e repetidas sem a elevação do espírito. Rezar é entrar na amizade, na intimidade de Deus. Bastariam ao menos, para esse colóquio, sempre quando possível, dois minutos diários com a Palavra de Deus. É a Sagrada Escritura, afirmava, a vitamina, “o Biotônico Fontoura” do cristão forte.
domingo, 8 de julho de 2012
A vida da gente
domingo, 17 de junho de 2012
A curiosidade do gato, árvore de Zaqueu e a coluna da Praça de São Pedro
terça-feira, 29 de maio de 2012
As letras que falam de Deus
Há duas semanas fui surpreendido com um e-mail recebido de um pastor evangélico que se diz leitor assíduo de meu blog – Gotas de Espiritualidade. Neste mesmo e-mail ,ao longo de uma bela reflexão e com muita profundidade, escreve-me o pastor: “Tome cuidado com suas linhas, o mundo não precisa de mais um literato, o mundo precisa do testemunho de homens de Deus”. Quando li este “conselho” fiquei um tanto quanto desconcertado. A minha primeira impressão foi que este senhor estava de alguma forma tentando fazer proselitismo comigo, mas, no decorrer de suas ponderações, percebi que ele aprofundava com muita propriedade algumas temáticas que insisto em abordar, e o fazia com muita sabedoria. Logo tomei consciência de que estava diante de um leitor que conhecia com maestria meus textos e, o mais importante, captava a intensidade de meus sentimentos. É impressionante como a fé ajuda a ler a partitura da alma. E isso não depende de Igreja!
sexta-feira, 11 de maio de 2012
Maio com amor: Maria, Princesa Isabel e Dona Ilca
sábado, 5 de maio de 2012
Por trinta moedas de prata
quinta-feira, 5 de abril de 2012
As duas bacias da Semana Santa
Envolto nesse conflito de poder e fraqueza emerge um singelo objeto, que passaria quase que despercebido se não estivesse presente em duas cenas fundamentais que retratam este embate histórico entre o poder e o serviço, a Lei e a oblação. Falo das duas bacias mais importantes da humanidade: a bacia de lava-pés, presente na última Ceia, quando, em um gesto de serviço e humildade, Jesus se pôs a lavar os pés de seus discípulos, e a bacia da condenação de Jesus, na qual Pilatos lavou suas mãos diante da condenação de um inocente.
A primeira bacia, a bacia de lava-pés, é a bacia do serviço. Bacia daquele que se despoja de sua condição de superior e se põe a servir. É a bacia da doação, da humildade, da simplicidade, da comunhão. Bacia que inverte a lógica do poder hierárquico e faz do primeiro o último e, do último, o primeiro. Na cena de lava-pés, Jesus, o mestre, quebra todos os protocolos pré-estabelecidos, dá uma lição de humanidade a seus discípulos, esvazia-se de sua condição de Mestre e Senhor; ajoelha-se diante de seus seguidores derrubando as barreiras da soberba edificadas pela lógica do poder. A bacia de lava-pés é a bacia da paciência e da incompreensão, pois esta vai na contramão do mundo: desnuda as relações de poderio e anestesia o narcisismo social e estético das relações superficiais.
A segunda bacia é a bacia de Pilatos, ou seja, a bacia dos lava-as-mãos. Bacia dos descompromissados, dos omissos e dos anônimos perante a causa da verdade e da justiça. É quase sempre a bacia em que os fracos e os desencorajados procuram para lavar suas mãos e se esconderem da realidade. É a bacia do “faz-de-conta”, do “esconde-esconde”, do fechar os olhos à realidade, do “deixa tudo como está para ver como é que vai ficar”. Bacia do: “eu não sabia”, da turma do “deixa disso” ou ainda do “eu fui o último a saber”. A bacia de Pilatos é a bacia que não cria compromissos, inserção e disponibilidade. Bacia quase sempre do jogo da conveniência, do oportunismo e das negociatas duvidosas.
Duas bacias e duas realidades: a bacia do serviço e a bacia da omissão. Aquele que se inclina no exercício do poder e serve; e aquele que se esquiva no exercício do poder e cala. Como percebemos em ambas as cenas o problema não está nas bacias, porém, nas mãos, nos sentimentos e nas atitudes dos que aportam. Pois bem, o problema não está no poder em si, na função, mas sim, na forma do exercício do poder.
As lições das bacias são oportunas para avaliarmos quais bacias estamos manuseando em nosso dia a dia. Bacias de covardia e omissão como as de Pilatos, ou bacias da disponibilidade e da coragem, como a de Jesus? Como exercitamos o poder quando nos é outorgado? Em quais bacias molhamos as nossas mãos?
Existe um ditado que diz: “queres conhecer os valores de um homem, dá-lhe um tacape”. Eu experimento avançar: “queres conhecer um líder, dá-lhe uma bacia.” Ela atualizará o servo que somos ou o “cacique” que construímos. Bacias são apenas bacias, o diferencial está nas mãos que as portam. É Deus com todos e cada um com a bacia que elegeu.
terça-feira, 20 de março de 2012
A força do murmúrios
Intrigas, fofocas e murmúrios não são fruto do mundo moderno e secularizado. A murmuração e o jogo da intriga já estão presentes nos tempos de Jesus e são narrados nos Evangelhos. O próprio Jesus assistiu, em sua humanidade, à fraqueza da humanidade: falar mal do outro. O texto de João (6,41) narra que os judeus murmuravam contra Jesus. Viam em Jesus um homem simples; filho de gente simples. O Filho de um “José qualquer”, e de uma dessas e tantas e outras “Maria” que busca ser um “notável” e ascender em seu clã. Com pode um “Zé povo”, um “sem berço”, nascido no meio de animais, criado por gente simples do campo, educado aos fundos de uma carpintaria ousar falar de Lei, Ética, Moral, Justiça, Reino e Céu? Questionavam seus contemporâneos a ousadia de Jesus em abordar temas até então reservados aos sacerdotes, magistrados e políticos de seu tempo. Ao filho do carpinteiro caberia ser o filho do carpinteiro! Era a lógica vigente.
As murmurações contidas neste texto dão margens a amplas interpretações. Aparecem visivelmente as do preconceito, da inveja, do bairrismo e do elitismo arcaico. Nada de novo ou estranho para nós, hoje.
Jesus, diante dos murmuradores, é enfático: “Não murmureis entre vós (Jo 6, 43). Ele reprova a prática dos murmúrios porque sabe que estes emergem repletos de preconceitos, maldades e sentimentos pouco nobres. Jesus foi vítima de murmuradores assim como muitos, hoje. Os murmúrios nunca são justificáveis. Ainda que seu conteúdo contenha certa dose de veracidade, a prática do murmúrio é reprovada, pois ceifa a autenticidade e a coragem de estabelecer-se um diálogo de comunhão e correção fraterna. O murmurador nunca edifica o murmurado. Faz aumentar a indignação, distorcer as informações e promover as calúnias. Nos murmúrios escondem-se os fracos, os medíocres e os inseguros que não são capazes de sustentar seus pensamentos e posições.
É difícil não murmurar! Atire a primeira pedra quem nunca murmurou de um professor, chefe, político, colega de trabalho, amigo ou de um líder religioso. Somos provocados a murmurar. Murmuramos quando somos confrontados, quando perdemos posições, quando somos questionados, incompreendidos, avaliados, esquecidos. Murmuramos quando o “outro” entra na nossa “contramão”, quando brilha mais do que nós, quando se destaca naquilo que temos dificuldades de realizar bem. Murmuramos, murmuramos e murmuramos.
Diante dos murmuradores, Jesus deixa claro que esta é uma prática não aceitável. Não aprova e relembra: “Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram” (Jo 6, 49). Como quem diz: Vossos pais morrem pela “língua”, mas entre vós, não deve ser assim, pois lhes foi dado um Novo Alimento, muito mais substancial do que o maná do deserto de vossos pais. Falava assim para que compreendessem seus ensinamentos e sua prática de justiça, verdade, comunhão e unidade, completamente inversa à calunia, fofoca, divisão e intriga, razão de ser do murmúrio.
Não murmurar é uma arte. Exige disciplina, força de vontade, abertura de coração e retidão de sentimentos. É preciso ser muito Homem para não murmurar. Forte, decidido, convicto e corajoso. Murmúrio não tem sexo! Tange a todos: homens e mulheres. Há quem diga que murmúrios de homens são muito mais doentes, dissimulados e venenosos do que os de mulheres. Mas, isso tudo é especulação. O que vale mesmo é o ensinamento de Jesus: “não murmureis entre vós”.
Ao final deste texto é bem possível que o leitor pare, reflita e se depare murmurando a respeito do que foi escrito, mas eu insisto, “não murmureis entre vós”. Ensina o Evangelho, agradece o autor.
sábado, 25 de fevereiro de 2012
Quem és tu?
O desafio, porém, de responder quem é Jesus não é recente. Seus discípulos, apóstolos e simpatizantes tinham a mesma dificuldade: conhecer Jesus. O texto do evangelista Mateus narra esta dificuldade que intriga o próprio Jesus. Disse Jesus: “Quem diz o povo ser o filho do homem? E eles responderam: Uns dizem João Batista; outros: Elias; e outros: algum dos profetas” (Mt 16, 13-14). Como se respondessem: um psicólogo, um político, um curandeiro, um filósofo, um comunista. Essa controvérsia a respeito da pessoa de Jesus, já presente em seu tempo, exprime a verdade de que Jesus era uma pessoa fascinante e um tanto quanto difícil de ser descrita. É um homem comum, mas fala com autoridade de profeta. É um Judeu, mas vive segundo a Lei do amor. É contradição para seus contemporâneos, mas aponta um caminho de unidade que o denomina como verdade e vida. Natanael, um de seus discípulos, não temeu em reconhecer Jesus: “Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel!”(Jo 1, 49).
Assim como ontem, Jesus, hoje, continua sendo uma resposta difícil de compreender. Enquanto alguns teólogos assumem essa árdua tarefa de aproximar-se cada vez mais do Jesus histórico, místicos e mestres em espiritualidades sugerem que, ao invés de compreendermos as teorias que apontam para Jesus, devemos experimentá-lo, ou seja, buscar uma vida de intimidade e oblação com o ressuscitado.
Meu professor de Cristologia, ao abordar a figura de Jesus de Nazaré, sempre foi enfático ao afirmar que só podemos aproximar-nos do acontecimento Jesus à medida que caminhamos ao seu encontro com passos históricos e passos de fé. Isso significa dizer, a medida que aceitamos o fato real de sua existência, dando-lhe um nome, uma geografia, um tempo, uma família, um ofício e recordando as mediações salvíficas acontecidas na história que o fizeram ser reconhecido como o Rei, o Senhor, o Messias, o Cristo, o Ungido, o Filho de Deus Vivo. São estes passos, na história e na fé, em perfeita sintonia, sem extremismos, reducionismos e exageros, que nos permitem conhecer e experimentar Jesus de Nazaré.
Minhas conclusões acadêmicas estabelecem que, quando o divino entra na história através do Mistério da Encarnação, junto com ele nós damos um passo na história para contemplarmos o divino. Escreve o Evangelista Mateus: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém” (Mt 2, 1). E continua: “Entrando na casa viram o menino com Maria, sua mãe e, prostrando-se, o adoraram” (Mt 2, 11). Junto com os reis magos nós damos um passo na história, vamos a Belém para conhecer Jesus, e assim, o adorá-lo. O primeiro passo, o passo histórico, é aquele que firma o chão, o tempo e o espaço para que possamos ajoelhar-nos e dizer: viemos adorá-lo. Não é possível chegar ao menino sem ir a Belém. Não é possível contemplar Jesus Cristo sem entrar na história nos dias do rei Herodes.
Estas reflexões são pertinentes para refletirmos os passos que damos na história e na fé ao falarmos de Jesus de Nazaré, o Cristo. É possível que ainda estejamos longe de responder de forma una quem é Jesus de Nazaré, mas, por certo, estamos cada vez mais próximos de afirmar quem não é Jesus de Nazaré: o mágico, o ilusionista, o curandeiro, o pop star.
Depois de ruminar tudo o que recebi a respeito de Jesus de Nazaré nos bancos acadêmicos e nas experiências religiosas, concluo que em Jesus encontramos a plenitude de todas as realidades. No calvário, se escondia toda a sua divindade, e hoje, em sua presença sacramental, se esconde toda a sua humanidade. Creio em ambas (cf. Adoro te devote, de Santo Tomás). No seu penhor de sacrifício real e humano datado na história e no tempo, bem como em sua atualização sacramental na comunidade quando esta se reúne, se faz memória, e celebra-se o sacrifício. É realmente um movimento pendular de fé e história.
Falar de Jesus Cristo realmente não é fácil, mas é vital e fascinante. É um desafio que se perpetuará nos séculos. É um mistério que não se esgota, uma paixão abrasadora que não se apaga, um amor que não finda. É o desejo de atualizá-lo diariamente perguntando a si mesmo: Quem és tu em minha vida?