Foto: César Imperador Romano
O
evangelista Mateus, em seu Evangelho, narra a passagem em que Jesus é provado
pelos fariseus a respeito dos tributos cobrados pelo Império Romano. Impostos
que oprimiam a classe média e os menos favorecidos. Posto à prova sobre a carga
tributária de seu tempo, disse Jesus: “Dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. Jesus,
mestre dos sábios, filho de carpinteiro, cidadão justo e com nome “limpo na praça”,
não se furtava em reconhecer a autoridade de César naquilo que era dever e, ao
mesmo tempo, não se furtava em revelar a soberania e a realeza de Deus que é
infinitamente maior do que o poder de César.
Esta
passagem deixa claro que não estava nos planos de Jesus “explodir” com
César, deflagrar uma CPI no Senado Romano, depô-lo do poder, e, subitamente,
levá-lo para o exílio ou, quem sabe, condená-lo a morte de cruz, mas sim,
convertê-lo, evangelizá-lo, torná-lo bom, um novo homem, um novo gestor
público. Como quem diz: Não viemos tirar nada de César, ou ainda, confabular
contra César, mas, formar César. Mostrar-lhe que tudo o que lhe é dado é dado
por Deus, e para o bem dos filhos de Deus, para que se cumpram os desígnios
divinos: “Um novo céu
e uma nova terra.” A mensagem de Jesus aos fariseus é muito rica.
Ele ensina-lhes que César merece receber aquilo que é justo, pois é na Justiça
que se estabelece o Reino de Deus.
O Reino de Deus é um reino de ordem. È um reino em
construção. Um reino que abriga toda a obra da criação e aguarda pela sua
recapitulação definitiva. Quando falamos sobre o Reino de Ordem, estamos
falando de uma sociedade organizada, que promove a dignidade da vida e sustenta
harmoniosamente toda a obra da criação. É lícito pagar os impostos para César,
pois César garantirá, no exercício de seu ofício, a dignidade da vida humana:
saúde pública com qualidade, inclusão social para pobres, negros, estrangeiros,
órfãos e viúvas. O tributo a César garantirá o tratamento de efluentes,
incentivará a produção de novas tecnologias limpas, planejará o desenvolvimento
sustentável, fará cumprir um plano diretor que respeite os limites urbanos e de
preservação ambiental. É justo dar a César o que é de César, pois assim, César
terá fundos para assistir aos acometidos por catástrofes naturais, remunerará
com dignidade os profissionais da educação, da saúde e da segurança pública. É
com os impostos dos contribuintes que César garantirá a mobilidade urbana, os
parques para o lazer, os eventos culturais. É preciso dar a César o que é
de César, para que César faça a sua parte naquilo que é designo de Deus para
todo homem: vida em
abundância.
A Deus é dado o desígnio de todas as vidas. Em Deus a
realidade de todo homem. Em Jesus, Deus feito homem, todo homem se encontra, se
santifica, se redime. Nele confiamos e nos salvamos. Isso é dado a Deus! A
salvação vem de Deus e não de César. A salvação é obra de Deus que conta com a
colaboração do homem, ou seja, com sua abertura humilde, pura e singela de
coração. É Deus
que salva e não César!
A parte de César é garantir a administração da
criação. É permitido por Deus que César o faça; e o faça segundo seu querer
benevolente: com justiça e misericórdia.
Que César promova a paz! Não a guerra! A destruição
e a corrupção.
Dai a César o que é de César, para que César faça
cumprir na terra a promoção humana: o salário digno, a moradia, a geração de
renda.
Dai a César o que é de César, mas não nos esqueçamos
de cobrar de César o que é de sua responsabilidade, pois bem sabemos das suas
fraquezas. Sua tendência a acomodar-se com o poder, ser servil aos
sistemas que oprimem a classe trabalhadora, nomear pessoas fracas e omissas,
como Pilatos, para ocupar cargos públicos e distanciar-se da realidade do povo.
Sejamos fiéis a Deus e justos com César. A César nem o
ônus nem o bônus, e sim, a vigilância cidadã.