Foto: Holofotes do sucesso |
A história brasileira é tecida de
homens e mulheres de memoráveis valores. De Dom Pedro I a Tiradentes, de
Tiradentes a Anita Garibaldi, de Anita Garibaldi a Getúlio Vargas, de Vargas a Dom
Hélder Câmera, de Dom Hélder a Irmã Dulce da Bahia; Betinho, as incansáveis
promotoras da justiça social, Irmã Dorothy e Zilda Arns, entre tantas outras
personalidades de reconhecidos serviços prestadas à sociedade e que permanecem
no anonimato da história.
Temos também Hebe Camargo, Roberto
Carlos, Padre Marcelo Rossi, Luan Santana e Xuxa. Já tivemos a Tiazinha, a
Feiticeira, a mulher Melancia, o Bozo e a Vovó Mafalda que andam um tanto
quanto desaparecidos. Temos Silvio Santos, o Gugu Liberato e Raul Gil. Sem
esquecermo-nos dos milionários vencedores da nave mãe Big-Brother. Quanta
alegria eles nos dão! Quanto talento! Quanta capacidade de reflexão! Quanto
legado...
Ainda temos as grandes celebridades
reconhecidas internacionalmente e que fazem sucesso por aqui: Harry Potter,
Robert Pattison e Justin Bieber: o mago, o vampiro, o teen.
Mas, o que me chama atenção mesmo
são as celebridades “intermunicipais” ou aquelas “interbairros”.
As mesmas de que conhecemos o nome e o sobrenome, com quem nos esbarramos todos
os dias quando andamos ao trabalho, no trânsito, na fila do caixa do
supermercado. Aquelas que gostam de chamar a atenção dos conhecidos, dos
vizinhos, dos amigos e dos colegas de trabalho. Passeiam com o carro 0Km do
ano, financiado com prestações a perder de vista, usam roupas de marca que
quase sempre nos deixam na dúvida: “É original ou é réplica?”. Pessoas que aparentam ser, não sendo.
Vivem no “faz de conta” da vida, no mundo da fantasia, na
Disneyland de seus sonhos e de forma inconscientemente atualizam na concretude
de suas relações sociais a pobre Macabéa de Clarisse Lispector.
Evitando, se possível, emitir a
construção de um juízo moral, todos nós em algum momento da vida, mais cedo ou
mais tarde, somos convidados a experimentarmos os holofotes do sucesso; os
louros da vitória, sejam no mundo acadêmico, no mundo do trabalho, do esporte
ou das artes. Dentro de nós há uma pequena Macabéa a espera para brilhar como
uma estrela. Penso que, a minha, brilha nestas linhas que escrevo...
O valor da dignidade da pessoa, sua
singularidade é a maior expressão da vida humana. Acreditamos que cada pessoa é
um acontecimento único. Repleta de potencialidades, habilidades, dons e
talentos. E é por isso que a pessoa deve acontecer! Na arte, no esporte, na
política, no mundo do trabalho. E mais, que seu acontecimento seja uma
possibilidade de transformação para as pessoas que as circundam, e para o
mundo. “Não ocultem a sua luz; deixem que ela brilhe diante
de todos. Que as vossas boas obras brilhem também para serem vistas por todos” (Mt 15, 14-16). Que sua luz, seu brilho, seu talento ajude a
melhorar o mundo e nos melhore. Quanto bem nos faz o talento daqueles que
promovem o bem!
Como é digno reconhecer as
autoridades constituídas! Come é belo cumprimentar o Governador, o Bispo, o
Chefe, sem esquecer-se de acenar ao porteiro da recepção, à mulher do cafezinho
e ao dedicado sacristão. Come é belo
reconhecer os embaixadores da fidelidade, do esforço, do trabalho digno e
honesto, da paz, da ciência e da cultura. Os embaixadores que organizam a
comunidade, o serviço voluntário, as associações de bairros, os movimentos
sociais. Aqueles que são constituídos em dignidade.
As pequenas e as grandes celebridades,
aquelas que estão longe e aquelas que habitam ao lado são sempre bem vindas.
Não podemos cair nas amarras do preconceito, do distanciamento ou na síndrome
da inferioridade. Não nos furtemos em reconhecê-las. Em aplaudi-las e
reverenciá-las nos momentos justos. Podemos ir até a elas e lhes reservar os
primeiros bancos. Isso não é pecado!
Não nos impeçam, porém, de refletir e
questionar o valor de seus legados. São eles que definirão a intensidade de
nossos aplausos ou o grito mais amargo de nosso silêncio. Sempre haverá uma
“esquina” reservada para o encontro entre o anônimo e o célebre. Macabéa teve a
sua: ela brilhou! Tornou-se uma estrela.