Um já falecido Monsenhor costumava nos dizer que rezar é pensar em Deus com carinho. É deixar com que a nossa mente e toda a nossa atenção se voltem para ele. Na oração, recordar-se do itinerário experimentado ao longo do dia: nossos pensamentos, nossas atitudes; nossa forma de falar, de agir e de ser. É o momento oportuno para o exercício da humildade, perdoar a quem nos ofendeu, e pedir perdão a quem ofendemos. Insistia que a oração não consiste em palavras decoradas e repetidas sem a elevação do espírito. Rezar é entrar na amizade, na intimidade de Deus. Bastariam ao menos, para esse colóquio, sempre quando possível, dois minutos diários com a Palavra de Deus. É a Sagrada Escritura, afirmava, a vitamina, “o Biotônico Fontoura” do cristão forte.
Este velho monsenhor acreditava no
poder da Palavra de Deus, não cansava de repetir-nos: “A Palavra de Deus é como uma espada de dois gumes, que penetra no mais
íntimo de nosso ser e vai modificando toda a nossa existência, nossa forma de
pensar e de agir e de ser”. A oração lapida o homem. Torna-o pessoa mais
equilibrada, mais calma, mais justa, mais humana e feliz. Um verdadeiro cristão,
finalizava.
Nos tempos modernos nos falta tempo
para rezar. Falta tempo para o cristão, para o judeu, para o muçulmano. O dia é
muito corrido, muitas são as atividades, há aqueles que defendam que o cansaço
do dia a dia, após uma jornada intensa de atividades, por si, se faz oração. O
Domingo, o dia do Senhor, dia reservado para o descanso, a meditação e a
oração, tornou-se o dia do Shopping, das compras, dos clássicos de futebol.
Para muitos, os Shoppings e os Estádios são as novas Catedrais. Segundo Dom
Orlando Brandes, Arcebispo de Londrina, vivemos em uma época em que os “Deuses” da moda e da bola ocupam os
altares principais de nossos Domingos. Padre Vilmar Adelino Vicente, professor
de Moral Social, costuma afirmar em suas aulas que são muitos os quem defendem
os comércios abertos aos Domingos, mas, são poucos os que se preocupam com as portas
das Igrejas fechadas aos Domingos. Vivemos em um tempo onde cada vez mais os
Domingos se parecem com os sábados e os sábados com os Domingos, se não fosse,
claro, a segunda –feira, que o Domingo nos insiste em recordar.
A dessacralização do Domingo
também toca a responsabilidade de nossos líderes religiosos. Quais são os
trabalhos oferecidos na vida eclesial aos Domingos? Como anda a qualidade das homilias dominicais?
Os horários das celebrações são adequados à dinâmica da vida local? Porém, ainda
que estes sejam argumentos lógicos para dificultar a vivência do Domingo, não
são fortes o suficiente para fazer-nos esquecer que o Domingo é o Dia do Senhor.
É o dia de visitar a casa daquele que nos visita durante toda a semana. De
devolver-lhe um pouco de tudo o que a sua infinita bondade nos concedeu: a
vida, a alegria, o nosso sorriso, a nossa voz, o nosso canto, enfim, a nossa
vivência litúrgica.
A conciliação do tempo é sempre a via
da maturidade e do equilíbrio. Quanta alegria está em sair com os amigos,
assistir a uma partida de futebol, caminhar nas montanhas, na beira de uma bela
praia, nadar, correr. Quanto bem nos faz dar uma prova de maturidade e
responsabilidade ao dizer: “Chegou a
minha hora, preciso ir. Ele me espera! Preciso visitar aquele que não se cansa
de me visitar”. E ao chegarmos a sua casa estabelecemos uma intensa
conversa de velhos amigos, relembrando-se de coisas da vida, dificuldades,
alegrias, desafios. Pede-se perdão pelas faltas cometidas, glorificam-se as
maravilhas da criação, participa-se do banquete. Nós falamos, Ele nos escuta.
Às vezes, não falamos nada e, no silêncio, escutamos tudo. Pode ser que ambos
permaneçamos em silêncio, mas, mesmo assim sentimos a presença um do outro. E isso nos basta!
Quanto à nossa vivência dos Domingos
junto dele, descobrimos que Ele não é ciumento, controlador, possessivo, basta
conciliar. O que não podemos é correr o risco de botá-lo no banco de reservas.
No Domingo, ele é o titular! Mas o gol, somos nós que fazemos.
Bom passeio! Bom clássico! Mas
estejamos atentos ao horário da celebração! Ele nos espera.