segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Amor de mãe - amor que ressuscita

Viúvas - Graça Morais
O Senhor, ao vê-la, ficou comovido e disse-lhe:
“Não chores!”
(Lc 7, 13).

O evangelho de Lucas narra a passagem da ressurreição do filho da viúva de Naim. Mulher viúva, solitária, mãe de filho único, defrontada pela dor de enterrar o filho amado. O evangelho não narra, mas é bem provável que esta mulher, de cultura semítica, vivesse o drama da opressão social e dos conflitos vigentes em seu tempo, tônica de todo o discurso dos antigos Profetas: o órfão, a viúva, a mulher, o estrangeiro e o pobre. Com a morte do filho único era intensificada sua situação de abandono. O filho era aquele que a acolhia, dando-lhe segurança e estabilidade social, afetiva, moral e, até mesmo, a garantia do sustento. Sem o filho, a viúva estava verdadeiramente abandonada, tornara-se vítima de um sistema preconceituoso e excludente.

Ao deparar-se com o funeral deste jovem e presenciar a dor da pobre mãe, Nosso Senhor comoveu-se de tal forma que fez parar o cortejo e, com autoridade, enfrentou a morte com a vida, e ordenou que o morto voltasse a viver. Imediatamente o jovem voltou à vida e o próprio Jesus o devolveu a sua à sua mãe.

O evangelista não narra o final desta história, mas, minha imaginação não se cansa de passear pelo quintal daquela família e imaginar as reações de alegrias, os sentimentos, as lágrimas e a comoção após tal acontecimento que os acompanharam por toda a vida.

Fico pensando o que passa na mente e no coração de uma mãe que, após experimentar a morte do filho, chorar sobre a urna recebe a graça de tê-lo novamente cheio de vida em seus braços. Imagino a reação de felicidade, a intensidade dos abraços, as lágrimas nos olhos, os beijos até excessivos, a necessidade de abraçá-lo fortemente e não permitir separar-se nem mesmo um segundo se seus braços. O sentimento de proteção e guarda, nato de toda mãe, e o desejo de gerá-lo novamente.

Acredito que a maior dor que uma mãe pode experimentar é a dor da perda de um filho. Talvez não haja na gramática de qualquer língua e cultura uma palavra que possa expressar tamanho sofrimento.

Quando imagino o filho voltando para os braços da mãe imagino o rosto desta mulher que, na vida, experimentou a morte e, na morte ainda em vida, encontrou a ressurreição. O amor tem esta sutileza: ressuscitar os vivos!

A Bíblia narra diversas passagens em que Jesus atende aos pedidos de pais e concede a cura a seus filhos. Jesus se compadece com a dor, o sofrimento e a angústia de um pai ou mãe que sofrem. Ele atende a intercessão, o clamor, o grito, as orações que brotam do coração aflito de mãe. A oração de mãe por seu filho é sempre solícita: comove o coração de Jesus e provoca a graça. As lágrimas de uma mãe por seu filho são recolhidas por Jesus.
A ressurreição do filho é sempre a ressurreição da mãe. O filho é uma extensão de amor, de vida, e de zelo.

Jesus deu nova vida para o filho da pobre viúva para que ela mesma ressuscitasse. Espero na gratidão desse jovem, pois foi através do amor e da fé daquela mulher que ele reencontrou a vida. Quem conhece o valor do amor de sua mãe conta com suas orações e economiza suas lágrimas, encontra no cotidiano da vida sinais contínuos de ressurreição.

Vilmar Dal-Bó Maccari