quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Dai a César o que é de César: não se esqueça de cobrar de César

 
Foto: César Imperador Romano


O evangelista Mateus, em seu Evangelho, narra a passagem em que Jesus é provado pelos fariseus a respeito dos tributos cobrados pelo Império Romano. Impostos que oprimiam a classe média e os menos favorecidos. Posto à prova sobre a carga tributária de seu tempo, disse Jesus: “Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”.  Jesus, mestre dos sábios, filho de carpinteiro, cidadão justo e com nome “limpo na praça”, não se furtava em reconhecer a autoridade de César naquilo que era dever e, ao mesmo tempo, não se furtava em revelar a soberania e a realeza de Deus que é infinitamente maior do que o poder de César.

Esta passagem deixa claro que não estava nos planos de Jesus “explodir” com César, deflagrar uma CPI no Senado Romano, depô-lo do poder, e, subitamente, levá-lo para o exílio ou, quem sabe, condená-lo a morte de cruz, mas sim, convertê-lo, evangelizá-lo, torná-lo bom, um novo homem, um novo gestor público. Como quem diz: Não viemos tirar nada de César, ou ainda, confabular contra César, mas, formar César. Mostrar-lhe que tudo o que lhe é dado é dado por Deus, e para o bem dos filhos de Deus, para que se cumpram os desígnios divinos: “Um novo céu e uma nova terra.” A mensagem de Jesus aos fariseus é muito rica. Ele ensina-lhes que César merece receber aquilo que é justo, pois é na Justiça que se estabelece o Reino de Deus.

O Reino de Deus é um reino de ordem. È um reino em construção. Um reino que abriga toda a obra da criação e aguarda pela sua recapitulação definitiva. Quando falamos sobre o Reino de Ordem, estamos falando de uma sociedade organizada, que promove a dignidade da vida e sustenta harmoniosamente toda a obra da criação. É lícito pagar os impostos para César, pois César garantirá, no exercício de seu ofício, a dignidade da vida humana: saúde pública com qualidade, inclusão social para pobres, negros, estrangeiros, órfãos e viúvas. O tributo a César garantirá o tratamento de efluentes, incentivará a produção de novas tecnologias limpas, planejará o desenvolvimento sustentável, fará cumprir um plano diretor que respeite os limites urbanos e de preservação ambiental. É justo dar a César o que é de César, pois assim, César terá fundos para assistir aos acometidos por catástrofes naturais, remunerará com dignidade os profissionais da educação, da saúde e da segurança pública. É com os impostos dos contribuintes que César garantirá a mobilidade urbana, os parques para o lazer, os eventos culturais.  É preciso dar a César o que é de César, para que César faça a sua parte naquilo que é designo de Deus para todo homem: vida em abundância.

A Deus é dado o desígnio de todas as vidas. Em Deus a realidade de todo homem. Em Jesus, Deus feito homem, todo homem se encontra, se santifica, se redime. Nele confiamos e nos salvamos. Isso é dado a Deus! A salvação vem de Deus e não de César. A salvação é obra de Deus que conta com a colaboração do homem, ou seja, com sua abertura humilde, pura e singela de coração. É Deus que salva e não César!

A parte de César é garantir a administração da criação. É permitido por Deus que César o faça; e o faça segundo seu querer benevolente: com justiça e misericórdia.

Que César promova a paz!  Não a guerra! A destruição e a corrupção.

Dai a César o que é de César, para que César faça cumprir na terra a promoção humana: o salário digno, a moradia, a geração de renda.

Dai a César o que é de César, mas não nos esqueçamos de cobrar de César o que é de sua responsabilidade, pois bem sabemos das suas fraquezas.  Sua tendência a acomodar-se com o poder, ser servil aos sistemas que oprimem a classe trabalhadora, nomear pessoas fracas e omissas, como Pilatos, para ocupar cargos públicos e distanciar-se da realidade do povo.

Sejamos fiéis a Deus e justos com César. A César nem o ônus nem o bônus, e sim, a vigilância cidadã.