sábado, 15 de setembro de 2012

A era das pequenas celebridades: as Macabéas de nossos tempos

Foto: Holofotes do sucesso


A história brasileira é tecida de homens e mulheres de memoráveis valores. De Dom Pedro I a Tiradentes, de Tiradentes a Anita Garibaldi, de Anita Garibaldi a Getúlio Vargas, de Vargas a Dom Hélder Câmera, de Dom Hélder a Irmã Dulce da Bahia; Betinho, as incansáveis promotoras da justiça social, Irmã Dorothy e Zilda Arns, entre tantas outras personalidades de reconhecidos serviços prestadas à sociedade e que permanecem no anonimato da história.

Temos também Hebe Camargo, Roberto Carlos, Padre Marcelo Rossi, Luan Santana e Xuxa. Já tivemos a Tiazinha, a Feiticeira, a mulher Melancia, o Bozo e a Vovó Mafalda que andam um tanto quanto desaparecidos. Temos Silvio Santos, o Gugu Liberato e Raul Gil. Sem esquecermo-nos dos milionários vencedores da nave mãe Big-Brother. Quanta alegria eles nos dão! Quanto talento! Quanta capacidade de reflexão! Quanto legado...

Ainda temos as grandes celebridades reconhecidas internacionalmente e que fazem sucesso por aqui: Harry Potter, Robert Pattison e Justin Bieber: o mago, o vampiro, o teen.

Mas, o que me chama atenção mesmo são as celebridades “intermunicipais” ou aquelas “interbairros”. As mesmas de que conhecemos o nome e o sobrenome, com quem nos esbarramos todos os dias quando andamos ao trabalho, no trânsito, na fila do caixa do supermercado. Aquelas que gostam de chamar a atenção dos conhecidos, dos vizinhos, dos amigos e dos colegas de trabalho. Passeiam com o carro 0Km do ano, financiado com prestações a perder de vista, usam roupas de marca que quase sempre nos deixam na dúvida: “É original ou é réplica?”.  Pessoas que aparentam ser, não sendo. Vivem no “faz de conta” da vida, no mundo da fantasia, na Disneyland de seus sonhos e de forma inconscientemente atualizam na concretude de suas relações sociais a pobre Macabéa de Clarisse Lispector.

Evitando, se possível, emitir a construção de um juízo moral, todos nós em algum momento da vida, mais cedo ou mais tarde, somos convidados a experimentarmos os holofotes do sucesso; os louros da vitória, sejam no mundo acadêmico, no mundo do trabalho, do esporte ou das artes. Dentro de nós há uma pequena Macabéa a espera para brilhar como uma estrela. Penso que, a minha, brilha nestas linhas que escrevo...

O valor da dignidade da pessoa, sua singularidade é a maior expressão da vida humana. Acreditamos que cada pessoa é um acontecimento único. Repleta de potencialidades, habilidades, dons e talentos. E é por isso que a pessoa deve acontecer! Na arte, no esporte, na política, no mundo do trabalho. E mais, que seu acontecimento seja uma possibilidade de transformação para as pessoas que as circundam, e para o mundo. Não ocultem a sua luz; deixem que ela brilhe diante de todos. Que as vossas boas obras brilhem também para serem vistas por todos (Mt 15, 14-16). Que sua luz, seu brilho, seu talento ajude a melhorar o mundo e nos melhore. Quanto bem nos faz o talento daqueles que promovem o bem!

Como é digno reconhecer as autoridades constituídas! Come é belo cumprimentar o Governador, o Bispo, o Chefe, sem esquecer-se de acenar ao porteiro da recepção, à mulher do cafezinho e ao dedicado sacristão.  Come é belo reconhecer os embaixadores da fidelidade, do esforço, do trabalho digno e honesto, da paz, da ciência e da cultura. Os embaixadores que organizam a comunidade, o serviço voluntário, as associações de bairros, os movimentos sociais. Aqueles que são constituídos em dignidade.

As pequenas e as grandes celebridades, aquelas que estão longe e aquelas que habitam ao lado são sempre bem vindas. Não podemos cair nas amarras do preconceito, do distanciamento ou na síndrome da inferioridade. Não nos furtemos em reconhecê-las. Em aplaudi-las e reverenciá-las nos momentos justos. Podemos ir até a elas e lhes reservar os primeiros bancos. Isso não é pecado!

 Não nos impeçam, porém, de refletir e questionar o valor de seus legados. São eles que definirão a intensidade de nossos aplausos ou o grito mais amargo de nosso silêncio. Sempre haverá uma “esquina” reservada para o encontro entre o anônimo e o célebre. Macabéa teve a sua: ela brilhou! Tornou-se uma estrela.