terça-feira, 10 de agosto de 2010

Rolem as pedras




“... Porque nenhum de vós vive para si mesmo
como nenhum de vós morre para si mesmo...” (Rm 14, 7-9).


Os grandes místicos e estudiosos da vida espiritual moderna comumente afirmam em seus escritos e tratados de espiritualidade que homem algum é uma ilha. Todo homem é um ser em relação. Ninguém por si se basta. Não vivemos para nós mesmos, assim como não morremos por nós mesmos. Somos seres relacionais. Relacionamo-nos com o outro, com a sociedade, com o cosmos e com o sagrado.

Não pode o homem existir sem o seio de uma família. Não pode o homem sobreviver sem os recursos naturais. Não pode o homem passar pela vida sem interpelar-se pelo sagrado.
A relação do homem com o mundo é fruto da liberdade criacional: Deus criou-nos no amor e na liberdade e, por isso, somos livres. A nossa liberdade é a maior prova do amor de Deus e, ao mesmo tempo, o seu maior risco. Na liberdade podemos optar pela vida plena em Deus ou pelo distanciamento consciente do mesmo. Nossas escolhas são frutos de nossa liberdade.
Deus amou-nos de tal modo que não nos quis marionetes, personagens manipulados, condicionados, parasitas pré-determinados. Ele nos criou livres - mesmo correndo o risco de perder-nos - para que pudéssemos, segundo a nossa consciência, buscar a verdadeira felicidade.
Nessa busca somos lançados no mundo. Deparamo-nos com diversas pedras no caminho da vida, pedras que precisam ser removidas, roladas e até mesmo implodidas. É a real necessidade de assumirmos e superarmos os enfrentamentos da vida.

Para compreender este movimento de busca, remoção e implosão são necessárias algumas perguntas: O que é a felicidade?O que vale para ser feliz? Quanto custa a felicidade? Onde mora a felicidade?

É verdade que são perguntas de grande subjetividade e lhes cabem respostas de igual subjetividade. Apesar disso, podemos definir alguns aspectos objetivos.
Antropólogos afirmam que o prazer pelo puro prazer não é sinônimo de felicidade. Augusto Cury, escritor neurolingüístico, afirma: “Há habitantes dentro de grandes mansões que são verdadeiros mendigos, e há dentro de velhos barracos habitantes que são verdadeiros milionários”.

A busca pela felicidade autônoma, desligada de Deus, torna as pessoas prisioneiras de meias verdades, sem os critérios do justo, do belo e do bom.
O mundo está amando pouco: as pessoas estão amando pouco! A felicidade está cada vez mais longe daqueles que a buscam. As pessoas passam a vida em busca da felicidade e quando a encontram percebem que ainda lhes falta algo. Que algo seria esse? Não seria a verdadeira experiência do amor? Ou, quem sabe, a coragem para implodir as pedras do medo, do desânimo, da incapacidade, do ressentimento e da amargura?

Quando não cultivamos a espiritualidade, quando não rolamos as pedras que nos impedem de lapidar nossa humanidade, por mais que tenhamos tudo o que podemos ter sempre sentiremos um vazio existencial a ser preenchido, a sensação do “falta-me algo”. Este espaço vazio é a falta da experiência do sagrado! É quando a matéria, o esforço humano, a ciência e o conhecimento não conseguem completar o homem de forma integral.

A espiritualidade é este “algo a mais” que transforma um profissional brilhante em brilhante profissional realizado. É a força que consegue transformar uma modesta casa de família em paradisíaco lar familiar. É a fonte capaz de suscitar relacionamentos autênticos em relacionamentos formais. A espiritualidade é a sutileza da vida, melodia completa, verso perfeito, matéria bruta modelada.

Quando se une a espiritualidade à vida, percebemos que passamos pela vida na alegria de viver. Rolamos pedras que pareciam grandes pedreiras.

Mendigos em mansões, ou milionários em barracos, a liberdade sempre nos acompanhará!
Nossa condição, pouco importa, sejamos sempre protagonistas de nossa liberdade. Não tenhamos medo de rolar as pedras da vida. O fruto justificará o esforço!