domingo, 13 de fevereiro de 2011

Sinais do sagrado: o mosaico da vida

Foto: Mosaico O Senhor

Todo ser humano, por mais racional e lógico que pareça, em algum momento de sua vida se confrontará com a célebre pergunta existencial: - Quando Deus agiu na minha vida?
Somos racionalmente movidos por questionamentos e respostas, certezas e incógnitas. Talvez isso seja, para os antropólogos, a maior dinâmica evolutiva que não esgota o estudo da condição humana. Questionar-se, em algum momento da vida, sobre a intervenção divina na ordem imanente da vida humana é, explicitamente, o primeiro movimento de abertura do humano para o sagrado. O humano pensa Deus! Ele busca perceber e compreender seus sinais, e até mesmo afirmá-lo, para que possa negá-lo quando desacreditado da vida. Interpelar-se por Deus é da condição humana.

Ao aterrizarmos no chão da vida e no concreto da história, em consonância com todos os conceitos que tangem ao homem, percebemos a sede humana por Deus. É Deus quem nos guarda de todos os perigos, nos ajuda nas horas difíceis, abre os caminhos para novas oportunidades, nos dá força para prosseguir, enfim, Deus é para o homem um eterno agora no mosaico da vida: cabe ao homem montar harmoniosamente as peças que o constituem.

Os sinais de Deus nesse mosaico não são intervenções mirabolantes e apoteóticas que causam pasmo e rompem com os postulados do ordenamento da vida. Pelo contrário, são sutilezas divinas que necessitam de igual sutileza humana para serem percebidas no cotidiano. Há sinais de Deus nos relacionamentos afetivos, no ambiente de trabalho, na enfermidade, nos momentos de crise e nas conquistas pessoais e comunitárias. Jamais haverá vácuo entre o homem e Deus. Deus acontece na medida em que o homem acontece. Mesmo que não dependa do homem para acontecer, a linguagem humana é sempre canal de comunicação de Deus com o humano: podemos afirmar que nossa humanidade, nossos afetos, sentimentos e consolos estão repletos da presença divina.

Quanto mais amamos e nos deixamos amar, mais nos tornamos sinais de Deus. Quanto mais cumprimos nosso dever profissional pautados em princípios éticos e morais, mais somos sinais de Deus no mundo do trabalho; quanto mais dignificamos nossos relacionamentos afetivos, orientando-nos numa sexualidade equilibrada e sadia, comprometida com o amor e não com o prazer egoísta, mais somos sinais de Deus no mundo. Deus age no equilíbrio de nossos afetos, relacionamentos e conduta. Quanto mais equilibradas, fiéis, honestas e justas forem nossas atitudes, mais sentiremos os sinais de Deus em nossa vida e, conseqüentemente, tornamo-nos sinais de Deus no mundo.

Quando não tomamos consciência de que o maior sinal de Deus na nossa vida é a possibilidade de ser sinal de Deus para a vida do outro, passamos a vida toda à espera de um estrondoso milagre que poderá não acontecer. Ser sinal de Deus no mundo é ser referência em uma sociedade relativista e fragmentada pelo individualismo e a descrença, ante-salas da corrupção, da traição, do vandalismo e da promiscuidade.
Os sinais de Deus no mundo são convites para fracos e fortes, para santos e pecadores. Na verdade, são o convite divino para sermos verdadeiramente humanos no mosaico da vida.

Vilmar Dal-Bó Maccari