sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Em nome da saudade



“Meu filho, por que agiste assim conosco?” ( Lc 2, 48).

“Filho, por que agiste assim conosco?”. Estas são palavras de Nossa Senhora, escritas pelo evangelista Lucas (Lc. 2,48), ao narrar o encontro de José e Maria com o menino Jesus no Templo de Jerusalém depois de o terem perdido por aproximadamente três dias. Somente um pai e uma mãe sabem o que é a dor de perder um filho, mesmo por um curto espaço de tempo: 1 minuto, 1 hora, três dias ou por toda a vida. Dor profunda que angustia o coração e inquieta a alma.
A perda desconcerta o homem. O sentimento de ausência na linha da distância abre as portas da saudade para o coração, e esta, por sua vez, aprofunda a experiência de recordar o passado no presente da vida. Para saudade não existe tempo nem espaço: não nos é permitido controlar sua intensidade e seu modo de bater à porta. Às vezes chega sutilmente, de forma vagarosa, quando menos a esperávamos, por meio do reencontro com um velho amigo dos tempos de infância. Outras, através de retratos fotográficos que recordam as lembranças de outrora; quem sabe, por uma filmagem antiga ou, ainda, pelas marcas de expressões do tempo, como os cabelos brancos, a voz fraca, as mãos trêmulas ou o cansaço do corpo.

A saudade nos recorda a vida: velhos tempos de infância, comida gostosa, carinho recebido, sonhos planejados, palavras não ditas, momentos em que fomos heróis, bandidos, moçinhos, sentimentos não correspondidos, os desamores da vida. A saudade tem a capacidade de nos propor uma reflexão existencial ao nos indagar: Filho, por que agiste assim contigo? Ela recorda o protagonismo de nossa história. Faz-nos dar gargalhadas com “trapalhadas” vividas e percebermos como potencializávamos problemas que na ótica de hoje consideraríamos periféricos. A saudade nos remete à verdade. Verdade muitas vezes doída. Recorda-nos as mágoas não resolvidas, as desculpas não concedidas, ressentimentos, sonhos não realizados, amores não conquistados.
A saudade é, verdadeiramente, um movimento pendular de alegria e frustração, acertos e erros que revelam ao homem o chão de sua história de vida. Sempre quando sentimos saudades, sentimos em nós a marca da vida desnudada.

Graças ao presente em que vivemos, podemos acolher o passado e planejar o futuro. A saudade não tem fim, e ela não acabará na medida em que nós continuarmos vivendo. Por isso, prosseguimos vivendo, dando sentido a saudades que afloram em nossa mente e coração: dentro do possível trabalhando-as no presente da vida, para que no futuro sejam sempre recordações valiosas. Recordações com gosto de felicidade!

Em nome da saudade vale recordar, escrever, cantar, aprender, chorar, perdoar, sorrir, e continuar. Em nome da saudade não é permitido desistir do agora da vida. Para Deus não existe ontem, nem amanhã. Deus é o eterno e amoroso, agora! Como sabiamente nos ensina Santa Teresa: " Tudo passa, só Deus basta."

Vilmar Dal-Bó Maccari